Praticamente todas as vertentes do Cristianismo tradicional guardam um dia
específico como sagrado, sendo dedicado exclusivamente ao descanso e aos
trabalhos religiosos. O Catolicismo e o Protestantismo reservam o domingo e
outras denominações preferem o sábado.
Esse dia obrigatório para descanso e oração dentro do Cristianismo tem a sua
origem no Shabat hebraico que ainda hoje é praticado pelos Judeus, começando a
partir do pôr-do-Sol da sexta feira até o pôr-do-Sol do sábado. Entretanto, o
Shabat não significa apenas um período de descanso comum é um período exclusivo
de adoração e comunhão com Deus em que são suspensas todas as atividades
cotidianas, já que essa palavra tem relação com o verbo hebraico Shavat que
significa “cessar”, “parar”.
O Catolicismo não adotou o Shabat, pois entendeu que a observação do sábado era
uma determinação exclusiva para o povo Judeu (Êxodo 31:16) e optou por
estabelecer o dia de domingo como o dia do Senhor na nova aliança, pois é o dia
que consideram como sendo o da ressurreição de Jesus. A reforma protestante
continuou a adotar o domingo como dia sagrado. Posteriormente, movimentos
religiosos surgidos depois da reforma adotam uma postura restauracionista, quer
dizer, acreditam estarem vivenciando plenamente a Lei divina restaurando a
guarda do Shabat no Cristianismo.
O Espiritismo, apesar de ser também uma ramificação Cristã não observa nenhum
dia de descanso e oração em especial. Todavia, respeita o posicionamento e a
liberdade de crença das demais religiões Cristãs. Entretanto, como os nossos
irmãos Sabatistas acreditam que guardar o sábado é essencial para a salvação,
pois faz parte das ordenanças dos dez mandamentos, questionam os espíritas com relação
ao Shabat já que Allan Kardec adotou os Dez Mandamentos como Lei divina e por
isso mesmo invariável.
Kardec no primeiro capítulo de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” afirma que a
Lei mosaica é constituída de duas partes distintas: “A Lei de Deus, promulgada
no monte Sinai, e a Lei civil, ou disciplinar, estabelecida por Moisés”. A Lei
de Deus são os Dez mandamentos que têm caráter divino enquanto a outra foi
estabelecida para regular e disciplinar a vida em sociedade e, para ser
realmente obedecida pelo povo, foi-lhe atribuída uma origem divina pelos seus
legisladores, pois hoje se sabe que Moisés não foi o autor de todo o
Pentateuco.
Então argumentam os Sabatistas: se os Dez mandamentos são de origem divina e a
observação do sábado faz parte deles, por que os espíritas não guardam o
sábado? Não seria isso uma contradição?
Existem na Bíblia duas justificativas principais para o descanso sabático: A
primeira faz remontar ao descanso de Deus ao concluir a sua criação. (Êxodo
20:8-11; Deuteronômio 5:12); a segunda justificativa coloca o descansar no
sétimo dia como um momento para o homem e os animais repousarem o corpo,
aliviarem-se das fadigas da semana. (Deuteronômio 5:14-15), até mesmo a terra
era deixada para descanso ao sétimo ano, afim de recompor os elementos perdidos
pelos seis anos de semeadura (Êxodo 23:10-11).
Qual dos dois itens realmente faz parte da ordem natural das coisas: o descanso
de Deus ou dos homens? É óbvio que Deus não descansou e muito menos cessou de
trabalhar como sugere a descrição mitológica do Gênesis.
A ciência já estimou, até o momento, através da análise de rochas muito antigas
que a idade do nosso planeta é de aproximadamente 4,54 bilhões de anos, muito
distante dos sete dias da Gênese mosaica e dos seis mil anos dos religiosos
tradicionais que se recusam a aceitar as evidências. Ao passo que, não somente
o homem, mas, todos os seres vivos têm uma necessidade natural de repouso.
Os Espíritos do Senhor, inspirando a inclusão na Torá, do descanso sabático,
quiseram impor um limite aos excessos dos homens rudes daquela época, que
impunham um trabalho incessante aos seus subordinados sem se importarem com as
consequências que o trabalho além do suportável pode acarretar. Isso fazia com
que os Hebreus ficassem pelo menos um dia longe do labor, proporcionando aos
filhos, escravos e animais uma folga merecida que, se não estivesse sob a capa
de um descanso divino provavelmente não seria acatado. O conhecimento dos
judeus sobre o mundo era absolutamente acanhado, estavam envolvidos por uma
mitologia adaptada das crenças dos povos mesopotâmicos, que muito antes dos
hebreus já dividam a semana em sete dias.
Outro benefício proporcionado pelo Shabat era o de reunir os homens em torno da
adoração monoteísta semanalmente, dificultando a influência dos cultos pagãos
sobre o povo, visto que na história dos hebreus o afastamento da crença em Deus
era muito frequente. Porém, com o tempo, os escribas e doutores Judeus levaram
essa observância ao extremo, colocando fardos excessivamente pesados nos ombros
do povo.
Por isso, Jesus quando interrogado pelos fariseus (Marcos 2: 27-28, 3:1-6)
respondeu: “O sábado foi feito para o homem, não o homem para o sábado. O Filho
do Homem é Senhor também do sábado”. Ou seja, a instituição do Shabat foi
introduzida na Lei para atender as necessidades humanas segundo a lei natural
do repouso, sendo algo secundário em relação a vida humana. O objetivo era
proporcionar ao homem o refazimento das suas forças físicas e morais, por esse
motivo, em outro momento o Mestre ensinou que no “amor a Deus e ao próximo” já
estava contida toda a Lei.
Para a Doutrina Espírita, todos os dias são do Senhor. Deixando a
cada pessoa a escolha do dia ou do horário que lhe for mais adequado para a
adoração ao Criador e ao repouso dos afazeres cotidianos. Esse posicionamento
não contradiz o preceito do sábado contido nos dez mandamentos, pois o descanso
(seja em que dia for) é uma lei natural para os seres vivos e consequentemente,
Divina.
Jefferson Moura de Lemos
Fonte: https://jeflemos.wordpress.com/2014/09/20/a-guarda-do-sabado-no-espiritismo/
Axé!